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Foto do escritorMiriam Zlochevsky Tunchel

Projeto editorial

Atualizado: 7 de out. de 2020


Cliente: Sinagoga Beth el

Produto gráfico: sidur de shabat - livro de rezas para a cerimônia das sextas-feiras


Como começa o desenvolvimento de um projeto gráfico editorial?

De modo geral, a primeira coisa é entender que produto será esse e para quem se destina.

Este projeto foi inusitado, porque ao ser chamada para a primeira reunião entendi que estava sendo desafiada a criar um projeto gráfico completamente diferente do convencional.

As cerimônias judaicas são sempre guiadas por um livro com suas respectivas rezas que são em hebraico e o que costuma-se fazer, quando a cerimônia não é em uma sinagoga de Israel, é reescrever o texto transliterado (escreve-se em alfabeto latino, mas da forma como se lê em hebraico) e anexar uma tradução do mesmo texto.


Convencionalmente, o texto em hebraico é escrito na página da direita e o transliterado, seguido da tradução, na da esquerda. Os livros são encadernados em capa dura, em uma cor só e apenas com o título na capa. O papel usado é o papel-bíblia e o texto impresso em preto, sem nenhuma ilustração ou elemento gráfico adicional.


A Congregação Beth El (São Paulo, SP) solicitou um projeto para o livro usado nas rezas de sexta-feira à noite (sidur de shabat), que tivesse compreensão fácil pelos membros da comunidade e possibilitasse o acompanhamento do serviço religioso com tranquilidade, mesmo por aqueles que não dominassem o hebraico. Eu diria que esse foi o primeiro aspecto a ser pensado. Para que os frequentadores da sinagoga, com diferentes entendimentos do ritual litúrgico

e de níveis heterogêneos de conhecimentos do hebraico pudessem acompanhar as rezas, eu deveria “facilitar” o processo.

Surgiu então a ideia de agrupar os textos de modo que o texto em hebraico ficasse ao lado da sua transliteração e seguido da tradução para o português.

A proposta gráfica do projeto é baseada no conceito de associar cada trecho em hebraico com sua respectiva transliteração e tradução, bem ao lado, de modo que mesmo aqueles que não são alfabetizados em hebraico pudessem seguir a ordem de cada reza, acompanhando facilmente o que o rabino estiver rezando.

Preocupada com a facilitação da comunicação, ainda me restava propor algo visualmente diferente. O livro em questão teria conteúdo religioso. Usar ou não cores? Misturar fontes? O hebraico já tem caracteres diferentes do alfabeto latino, valeria a pena trazer mais misturas tipográficas? E o formato? Qual o melhor tamanho para um manuseio confortável?

Após alguns testes, os resultados aprovados levaram a um projeto que contemplou o uso de elementos gráficos em tons de azul e cinza, com as letras iniciais de cada reza posicionadas como uma capitular (letra em tamanho maior que o resto do texto) e um texto bíblico foi transformado em desenho e usado para criar efeito de textura em algumas páginas.

A equipe que produziu o conteúdo trouxe textos de reflexão, paralelos aos litúrgicos, com o objetivo de agregar ainda mais valor ao livro, que deveriam

ser inseridos de modo a não comprometer a sequência do serviço religioso. Mais um desafio!

Após quase 1 ano, o livro ficou pronto! O uso de cor foi moderado para não correr o risco de transformar uma publicação religiosa em um livro comum.

A fonte em hebraico e a usada para a tradução foram da mesma família tipográfica, aproveitando que já existia uma família com o mesmo nome e em versão latina e hebraica. A transliteração foi feita com fonte diferente, justamente para marcar que eram textos diferentes, ainda que ambos estavam com letras latinas. O papel bíblia, que é transparente, foi substituído por outro, com maior gramatura, que não deixou que o texto da frente se misturasse com o do verso.

O resultado foi uma publicação com fácil compreensão durante o serviço religioso e com projeto gráfico que conseguiu conciliar a comunicação com visual moderno.

O melhor feedback foi recebido no primeiro dia de implementação do livro, onde ao final da cerimônia, muitos membros da comunidade comentaram que finalmente conseguiram seguir o serviço religioso sem se perder em nenhum momento. Este talvez seja o melhor retorno que um designer pode receber após um projeto tão elaborado!






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