Há algum tempo, conversando com um arquiteto, percebi uma coisa curiosa: quem trabalha com criação tende a colocar tanto de si em suas produções, que acaba quase virando uma representação. A parte boa é que a entrega é absoluta, mas a parte ruim... ah, essa é mesmo perigosa.
Como não confundir uma crítica ao trabalho com uma crítica à pessoa? E sendo assim, como ter isenção suficiente para ouvir as observações do cliente e aceitar que aquele projeto é do cliente e não seu?
Pensando nesse assunto, comecei a entender que a questão orbita na auto-estima do profissional de criação. Se ele tem alguma dificuldade em reconhecer seu próprio valor, leva a crítica para o lado pessoal, fica triste e se frustra com a própria produção. Mas, no outro extremo, se está tão seguro de que seu trabalho é irretocável, não aceita os comentários que o cliente possa fazer e acaba “se esquecendo” de que o projeto não é sua propriedade.
Como dosar estas duas situações? Como separar o que você produz de quem você é? E como desapegar de um conceito fechado, onde você , profissional, se sente senhor absoluto da razão?
Em outro post, abordei a importância do designer interpretar e traduzir o que o cliente pede, até porque ele é quem melhor conhece seu produto (Quero ser nike: ou o poder de uma marca forte).
Saber ouvir o outro é dar a oportunidade de reavaliar seus próprios conceitos. Deixar o ego do tamanho certo passa a ser um constante desafio. O cliente deve opinar e ajudar o designer a conduzir o processo de criação, o que não significa que o cliente vá ensinar o designer a trabalhar. O cliente tem uma visão mais focada no seu próprio produto, enquanto o designer tem um repertório rico em soluções. Uma das melhores coisas que eu, como designer gosto de ouvir é: que ideia ótima essa! Jamais teria pensado nisso! Ponto para o designer!
Em contrapartida, o designer precisa acreditar que está propondo algo ao seu cliente com base em seus conhecimentos e experiência e defender algumas ideias pode ajudar quem o está contratando a por luz no que realmente importa. Se o designer começar a mudar todo seu projeto em função apenas do gosto do cliente, das duas uma: ou partiu de um ponto equivocado ou nem mesmo ele está convencido de que chegou em um resultado interessante.
Por isso, diariamente é preciso avaliar seus próprios conceitos e valores para que a cada projeto, possamos crescer como profissionais e aprender um pouco mais de nós, enquanto indivíduos.
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